De São Paulo a Istambul, passando por Senegal, Santa Catarina e Escócia, o início do mês de setembro foi marcado por chuvas torrenciais, enchentes e outros fenômenos climáticos extremos - para cientistas entrevistados pela BBC Brasil, um lembrete sobre a urgência da necessidade de se adaptar às mudanças climáticas.
"Certamente, as projeções feitas por modelos de computador sofisticados indicam um aumento na probabilidade de ondas de calor e na intensidade das chuvas, bem como um aumento no número de áreas que sofrem com secas", disse à BBC Brasil o professor Richard P. Allan, do Centro de Ciência para Sistemas Ambientais da Universidade de Reading, na Grã-Bretanha.
Em 2007, o relatório do Painel Intergovernamental para Mudança Climática da ONU (IPCC, na sigla em inglês) já alertava que um aumento na "frequência (ou proporção do total da incidência de chuvas relativa à chuvas torrenciais) de 'eventos de forte precipitação'" era "muito provável", ou seja, mais de 90% provável.
Diante da relativa segurança dos cientistas de que as temperaturas vão subir nos próximos anos, a recomendação do IPCC - reiterada por cientistas ouvidos pela BBC - é se preparar para uma ocorrência cada vez maior deste tipo de eventos.
Para uma cidade como São Paulo, construída em torno do Rio Tietê, a adaptação é ainda mais urgente.
"É preciso pensar no sistema de drenagem e na infra-estrutura da cidade, porque mais e mais eventos extremos devem acontecer. Pelo menos é essa a tendência que se pode ver hoje", afirmou à BBC Brasil o professor Bill McGuire, da University College London.
Para o meteorologista britânico Simon Brown, colega de McGuire no Centro Hadley, a unidade do Met Office, o Departamento de Meteorologia britânico, investimentos em adaptação são questão de bom senso.
"Se há uma vulnerabilidade natural para eventos naturais extremos relacionados ao tempo, e esses eventos extremos, diante do aquecimento global, vão se tornar mais frequentes, qualquer pessoa sensata se prepararia para isso", afirmou Brown.
O especialista lembrou que cidades como Amsterdã, que fica abaixo do nível do mar e será muito afetada por outro provável efeito das mudanças climáticas, o avanço dos oceanos, já vem reforçando o seu complexo sistema de diques.
Londres também se prepara, e já tem um plano que prevê reforços futuros na chamada "barreira do Tâmisa", um sistema de comportas capaz de controlar o nível da água do rio para evitar enchentes na capital britânica.
Adaptações
O financiamento para adaptação ao aquecimento global nos países mais pobres do mundo é um dos assuntos mais polêmicos em pauta para o encontro das Nações Unidas sobre o clima, que acontece em dezembro, em Copenhague.
Em julho, o representante máximo da ONU para o assunto, Yvo de Boer, afirmou que US$ 10 bilhões por ano seriam "um bom começo" para que as negociações avancem.
A previsão é de que países pobres como Bangladesh e pequenas nações insulares, com escassos recursos para se preparar para o futuro, sejam os maiores afetados pelo aquecimento global.
Embora as catastróficas chuvas de semana passada na Turquia - que deixaram mais de 30 mortos - tenham sido as piores em 80 anos, segundo especialistas, não é possível associá-las diretamente às mudanças climáticas.
"É sugestivo, mas não podemos fazer associações diretas entre eventos individuais e o aquecimento global, mas a ciência é bastante clara: quanto mais quente o ar ficar, mais umidade ele é capaz de transportar, o que facilita a ocorrência de chuvas torrenciais", afirmou Brown à BBC Brasil. BBC Brasil -
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