Com sua capacidade praticamente esgotada, o Aterro Sanitário da Caximba se transformou em uma bomba-relógio. A intenção de estender o prazo de vida útil por mais seis meses, confirmada ontem pela prefeitura de Curitiba, desencadeou um protesto que bloqueou o acesso ao aterro e provocou uma fila de caminhões de lixo. A manifestação prejudicou a coleta na capital e região metropolitana. A prefeitura garante que a norma que obriga os grandes geradores de lixo – estabelecimentos que produzem mais de 600 litros por semana – a dar destinação final aos seus resíduos a partir de amanhã e não mais depositar os resíduos na Caximba aumentará a sobrevida do aterro.
Segundo a coordenadora de Resíduos Sólidos da Secretaria de Meio Ambiente de Curitiba, Marilza Oliveira Dias, com essa medida, 400 toneladas de lixo deixarão de ser levadas ao aterro diariamente. “São ajustes que possibilitam maior uso, dentro dos padrões autorizados pelo licenciamento”, diz, garantindo que existe estabilidade para uso do aterro até janeiro de 2010. O presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Vitor Hugo Burko, foi categórico ao comentar o assunto: “Seria uma irresponsabilidade do IAP permitir a ampliação.” A indefinição sobre o prazo de encerramento do aterro se estende desde 2004. Laudos do IAP mostram que em julho ou agosto o espaço atingirá o limite. Os técnicos rechaçam a possibilidade de ampliação ou readequação, porque a vida útil do aterro já foi aumentada em pelo menos três oportunidades. O secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Rasca Rodrigues, se mostra contrariado com o argumento da prefeitura. “Pedimos que 30% do chorume do aterro fosse recirculado e a prefeitura informou que não havia estabilidade. Mas para essa ‘ampliação’ há estabilidade”, afirma. Marilza diz que se trata apenas de “ajustes operacionais” para chegar à altura máxima de empilhamento do lixo, que é de 940 metros, permitida pelo IAP.
Caso a ampliação seja negada, Curitiba e mais 16 cidades da região metropolitana podem não ter local para destinar seu lixo, enquanto não for concluída a licitação promovida pelo Consórcio Intermunicipal para a Gestão de Resíduos Sólidos para escolha da empresa que irá gerir o Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos.
Os manifestantes fecharam a rua que dá acesso ao aterro às 4 horas da madrugada e a passagem só foi liberada às 18 horas. Nesse intervalo, os caminhões que fizeram a primeira coleta do dia ficaram parados em pontos ao longo da BR-116. Com isso, não voltaram para novas coletas (são feitas em média três viagens por dia), o que afetou o sistema de recolhimento de lixo durante a tarde, segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Comerciante na Caximba, Jadir Silva de Lima diz que a comunidade defende o selamento do aterro em julho e que não aceita a prorrogação em função do mau cheiro e outros problemas causados pelo aterro, como o chorume que atinge o Rio Iguaçu. Os moradores também reivindicam a participação de uma comissão para fiscalizar o material destinado ao aterro. Eles afirmam que a Caximba está recebendo resíduos que deveriam ter outro destino. O secretário municipal do Meio Ambiente, José Antônio Andreguetto, afirma que a comissão poderá ser formada e terá acesso ao aterro, desde que seja constituída por pessoas que tenham “habilidade técnica reconhecida pelo Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia)”. Conforme o secretário, não será permitida a entrada de pessoas despreparadas para fiscalizar. Um grupo que representa a comunidade foi recebido, à tarde, pelo presidente do IAP, Vitor Hugo Burko. De acordo com Lima, Burko se comprometeu a negociar a liberação da entrada de uma comissão no aterro sanitário. Além de Andreguetto e de Burko, estiveram no local do protesto o coordenador da Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente, Saint-Clair Honorato Santos. A presença das autoridades foi imposta como condição para que a passagem dos caminhões fosse liberada ao meio-dia. Mas como a comunidade não ficou satisfeita com a falta de compromisso do secretário Andreguetto em selar o aterro em julho, o protesto foi mantido até o fim da tarde. Ampliação é perigosa O Aterro da Caximba se divide, hoje, em duas grandes “montanhas”: uma abriga resíduos velhos e a outra o lixo recente. Por meio de fotos aéreas é possível observar a existência de, pelo menos, dez células distintas – espécie de andar de lixo soterrado por terra. Segundo Vitor Hugo Burko, a decomposição do lixo nos primeiros “andares” dificulta o cálculo que defina qual quantidade de peso pode ser colocada no topo do aterro sem alterar a estabilidade. “Pode ter se formado algum tipo de vácuo na decomposição dos resíduos”, explica. Laura Jesus de Moura e Costa, coordenadora do Centro de Estudos, Defesa e Educação Ambiental (Cedea), defende que, em função da forma como foi construída a Caximba, uma possível ampliação ou adequação deve ser considerada como última alternativa. Para Laura, faltou investimento em tecnologia para reciclagem e reaproveitamento desde 1989. “Em 20 anos de Caximba, não se investiu em uma usina de reciclagem. Até a matéria orgânica pode ser reaproveitada hoje”, diz. “As dificuldades do Aterro da Caximba são resultado direto do atraso tecnológico e falta de investimentos da administração pública”.
(fonte: Jornal Gazeta do Povo.)
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